Muita coisa que você vê não é real. Mas calma: Você não é maluco. Isso é apenas uma ilusão criada pelo cérebro, que passa parte do dia enganando você.
Decisões irracionais, preconceito sobre diversos assuntos (por mais que você não seja preconceituoso). Você é normal e possui um cérebro perfeito.
Usando uma grande carga de conexões e pouquíssima quantidade de energia, nosso cérebro consegue fazer coisas sofisticadas, de que nenhum computador é capaz.
Só que tudo isso tem um preço. Ele não consegue analisar as situações de forma completamente racional, avaliando todas as variáveis envolvidas em cada situação. Para fazer isso ele precisa de mais circuitos e muito mais energia.
Ao longo da evolução, a natureza encontrou uma solução: o cérebro pode mentir para seu dono. Descartar informações, manipular raciocínios e até inventar coisas que não existem para simplificar a realidade e reduzir drasticamente o nível de processamento exigido dos neurônios. “São efeitos colaterais do funcionamento normal do cérebro”, diz Suzana Herculano-Houzel, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Visão:
Das 16 horas por dia que você passa acordado, em média, 4 horas são preenchidas por imagens “artificiais” – que não foram captadas pelos olhos, e sim criadas pelo cérebro.
Pensamento:
Com R$ 1,10, você pode comprar um café e uma bala. O café custa R$ 1 a mais do que a bala. Quanto custa a bala? Responda rápido. Dez centavos, certo? Errado. Você acaba de ser enganado pelo próprio cérebro. Mas não está sozinho – mais da metade dos estudantes de universidades prestigiadas como Harvard, MIT e Princeton responderam a essa mesma pergunta e também erraram (entre alunos de instituições menos badaladas, o índice de erro é ainda maior, cerca de 80%). Essa charada é um dos exemplos citados no livro Thinking, Fast and Slow (Pensando, Rápido e Devagar, ainda sem versão em português), do psicólogo israelense Daniel Kahneman, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia por suas pesquisas sobre o comportamento humano.
Para Kahneman, o cérebro tem dois tipos de pensamento. O primeiro é rápido e intuitivo e confia na experiência, na memória e nos sentimentos para tomar decisões. O segundo é lento e analítico – e serve como uma espécie de guardião do primeiro.
De certa forma, o pensamento intuitivo é o que nos diferencia dos robôs. E é ele que permite ao cérebro processar informações na velocidade necessária. “Ele é mais influente. É o autor secreto de muitas decisões e julgamentos que você faz”, explica Kahneman no livro. Foi o pensamento intuitivo que apontou os dez centavos como resposta para o enigma do café. Só que ele mentiu para você. A resposta certa é R$ 0,05. Se a bala custasse R$ 0,10, o café custaria R$ 1,10 – e o total daria R$ 1,20.
Esse duelo entre os dois tipos de pensamento, o rápido-intuitivo e o lento-analítico, também tem uma explicação evolutiva.
Decisão:
Um estudo de pesquisadores das universidades de Ben Gurion, em Israel, e Columbia, nos EUA, analisou o comportamento de juízes que deveriam decidir sobre a liberdade condicional de presos (um processo rápido, que leva 6 minutos). Em média, somente 35% dos condenados ganhavam a condicional. Mas os cientistas perceberam que os juízes eram muito mais benevolentes depois de comer. Quando eles tinham acabado de fazer uma refeição, a taxa de aprovação subia para 65%. Com o passar do tempo, a fome vinha chegando, e a concessão de liberdade condicional ia caindo. Minutos antes do próximo lanche, o índice de aprovação era quase zero.
Decidir sobre liberdade condicional e julgar a própria felicidade são tarefas complexas. Para avaliar todas as variáveis envolvidas, muitas delas subjetivas, o cérebro tenderia a ficar sobrecarregado. Por isso, ele usa atalhos.
Otimismo:
A pesquisadora Tali Sharot, da University College London, gravou a atividade cerebral de voluntários enquanto eles imaginavam situações banais – como tirar uma carteira de identidade. Ela também pediu que os voluntários pensassem em coisas do passado. Os testes mostraram que as mesmas estruturas cerebrais são ativadas para recordar o passado e imaginar o futuro. Só que, ao imaginar o futuro, os voluntários criavam cenários magníficos – era o cérebro tentando colorir os eventos sem graça. “Cerca de 80% das pessoas têm tendência ao otimismo, algumas mais do que outras”, diz ela. Para Tali, autora do livro Optimism Bias (O Viés do Otimismo, ainda sem versão em português), o otimismo é sempre mais comum que o pessimismo – seja qual for a faixa etária ou o grupo socioeconômico da pessoa. Assim, nunca acreditamos que algo vá dar errado – mesmo quando o mais racional seria pensar que sim. “As taxas de divórcio, por exemplo, chegam a 40%, 50%. Mas as pessoas que estão para casar sempre estimam suas chances de separação em o%”, exemplifica Tali.
Segundo ela, a inclinação natural ao otimismo também é um dos fatores que levaram à crise econômica global de 2008. “As pessoas achavam que o mercado continuaria subindo cada vez mais e ignoraram as evidências contrárias”, afirma.
Fonte:https://super.abril.com.br/ciencia/descubra-as-mentiras-que-o-seu-cerebro-conta-para-voce/
Imagem: freepik
Fonte:https://super.abril.com.br/ciencia/descubra-as-mentiras-que-o-seu-cerebro-conta-para-voce/
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